Viver às vezes me dói
Sentir, ouvir, ver, lembrar.
Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores que eu não sei o nome
Eu vejo tudo enquadrado
Ou ao quadrado...
As coisas me doem mais
.
Eu presto atenção a cada detalhe
Que me aparecem tão grandes
Intensos
Poluídos até...
As vozes são altas, cores fortes,
E o tempo passa pausadamente,
Devagar... As janelas olham
Eu gosto de ver contemplar assistir:
Ver, a vida, passar...
.
Eu vejo tudo: indignação!
Eu me sinto impotente
Impotente perante a política, a fome, a dor, a falta de educação
Eu presto atenção a cada detalhe, e cada um deles me doe, arrancam-me um pedaço maior.
E me sinto impotente, enquadrada em mais um quadro da disparidade social. Mais uma impotente - imponente indignada.
Mais, alguém, que só, contempla.
.
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
Sentindo a dor das cores de Almodóvar,
Dos sons de rock, chorando e cantando os dramas
Correndo atrás do meu fogo encantado
Comendo chocolates
Degustando
Mirando
Estudando
Falando das coisas que aprendi nos discos
Da ferida viva do meu coração que sangra
E estanca
E sangra
E esquece
Do Povo Severino
Morte e vida Stanley!
.
Eu perco o chão pelos outdoors da Avenida 7
Me impressiono com os prédios
Eu não acho as palavras
Amo o carnaval - o espetáculo
Eu sou o samba!
Pagu indignada no palanque...
Herdeira da impunidade e de uma criminalidade vulgar
.
Como seria melhor se não houvesse refrão nenhum, mas há:
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela vai nascer outro negro, ouviram? Mais um negro para trabalhar. Vai nascer outro negro, ouviram? Mais um negro para trabalhar
Eu sou neguinha!...
Ou lusa?...
Ou Musa?...
Ou Diva! Diva no Divan!
Comendo canapé
Na hora do lunch
Andando de ferryboat
Pertenço a high society!
Down, Down high society
Ou sou neguinha?...
.
Tava perguntado...
.
Era um gesto hippie, um desenho estranho...
Eu era o enigma, uma interrogação:
- Eu sou neguinha? Rezando ali?! Completamente uma crente?!
.
Eu gosto de opostos!
.
É... A engenharia caiu sobre as pedras... Um curupira já tem seu tênis importado! Não conseguimos acompanhar o motor da história, mas somos batizados pelo batuque e apreciamos a agricultura celeste. Mas enquanto o mundo explode, nós dormimos no silêncio do bairro... Pintando o estandarte de azul...
Pondo as estrelas no azul
Brincando de ser feliz,
E contemplando a palhaçada,
Os Palhaços do Circo sem Futuro
O circo pegando fogo,
O cerco se fechando...
Pra que mudar?
.
Nossa Senhora da Paz, a bailarina do circo, venha beijar a pele da cidade, no movimento da rua, as feridas, a fome e o motor.
Venha me beijar meu doce vampiro da impunidade
Minha sanguessuga
Meu amor... O beijo amigo é véspera do escarro...
Eu acordei e vi ninguém ao lado.
.
Eu! Filho do carbono e do amoníaco.
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância por contemplar...
E sentir a dor que deveras senti
A dor do tempo A dor das coisas, dos meninos que têm fome
A dor da seca,
Da força que nunca seca,
Dor do tronco
Contemplar minha cidadezinha qualquer, minhas mulheres entre laranjeiras, bem devagarzinho...
Ainda que me digam não estar na idade de sofrer por essas coisas, porém se não estou mais na idade de sofrer é porque estou morto, e morto é a idade que temos para não sentir nada...
.
Como seria melhor se não houvesse refrão nenhum, mas há:
.
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Vai nascer outro negro, mais um negro para trabalhar. Vai nascer outro negro, ouviram? Mais um negro para trabalhar. E o seu nome? Eu também não sei...
domingo, 30 de setembro de 2007
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